Hoje, mergulharemos em um tema que une a medicina e a espiritualidade: A Doença Fatal: Tratando a Raiz do Pecado.
Uma das críticas mais contundentes à medicina moderna é seu foco em “tratar os sintomas”, e não a causa subjacente da doença. Essa é a essência de campanhas poderosas como “Make America Healthy Again“, pois, quem ousaria se opor à saúde?
Queremos, com toda a lógica, abordar a raiz, não apenas os ramos. Se a medicina não é sua praia, pensemos na jardinagem: não basta arrancar a parte visível da erva daninha; é preciso extrair a raiz, ou o esforço será em vão – com um pouco de sol e chuva, ela voltará.
Essas realidades são claras para todos nós. Mas, estranhamente, compartmentalizamos nossos cérebros. Quando o assunto é nossa vida espiritual, e mais especificamente o pecado, frequentemente falhamos em aplicar essa mesma lógica. A maioria de nós, e eu me incluo, pensa no pecado como atos pontuais de desobediência, erros isolados – quase como um contador avalia impostos, olhando para despesas e receitas.
É assim que julgamos os outros e a nós mesmos, e por isso assumimos que é assim que Deus nos vê. Conversas como “Eu doo para caridade”, “Vou à igreja todo domingo”, “Ajudo os outros”, contrapondo-se a “Bebo muito” ou “Menti ontem”, são comuns em nossas mentes. Mas será que essa é a abordagem de Deus?
I. A Insuficiência Cardíaca Espiritual: Quando a Cura se Torna a Doença
- Um dos meus tópicos favoritos na medicina é a insuficiência cardíaca. É fascinante, pois, independentemente da lesão inicial, a maior parte da doença progride pela própria tentativa do corpo de resolver o problema. O corpo, sentindo que o coração não bombeia sangue suficiente, produz adrenalina e outras substâncias.
- Isso, inicialmente, ajuda o coração, mas, a longo prazo, causa mais danos, fazendo-o crescer e cicatrizar de forma prejudicial, levando à morte. A insuficiência cardíaca avançada é, de fato, mais letal do que muitos tipos de câncer. A pesquisa médica sobre essa doença é vasta. Um dos tratamentos mais intrigantes é que medicamentos que aumentam a força do coração fazem pouco para reduzir o risco de morte, enquanto aqueles que fazem o coração bater mais devagar e mais fraco, na verdade, reduzem o risco de morte e melhoram a qualidade de vida.
- Por quê? Porque o primeiro trata o “sintoma”; o segundo, a “causa”. Outro exemplo: arritmia é uma grande causa de morte pós-infarto, mas medicamentos antiarrítmicos aumentam o risco de morte. Isso não é trivial; é um aspecto fundamental do Logos de Deus.
- Deus revela Sua sabedoria através do mundo criado, através de sua lógica. E a lógica da medicina é a chave para entender como devemos lidar com o pecado. Isso não quer dizer que o pecado seja uma doença física – o que seria uma estratégia para isentar a responsabilidade pessoal. O pecado não é uma condição médica, mas devemos abordá-lo e entendê-lo como se fosse.
II. A Raiz do Pecado: Além dos Frutos Externos
- A febre nunca é a causa de uma infecção, e tratar a febre sem tratar a infecção é inútil. Então, por que quando confrontamos nossa pecaminosidade, olhamos apenas para seus frutos externos em vez das raízes dessa erva daninha? É por isso que muitos de nós lutam com pecados repetidos: ao nos concentrarmos no ato externo e ignorarmos suas raízes espirituais, no calor da tentação, o pecado dá seus frutos novamente.
- Jesus nos ensina a olhar para a raiz. Em Mateus 5:21-22, Ele diz: “Vocês ouviram que foi dito ao povo há muito tempo: ‘Não matarás, e quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer um que se irar contra um irmão ou irmã estará sujeito a julgamento. Novamente, qualquer um que diga a um irmão ou irmã ‘Raca’ é responsável perante o tribunal. E qualquer um que disser ‘Seu tolo’ estará em perigo do fogo do inferno.”
- Jesus não era um “policiador de pensamentos”; Ele é o maior Médico. Como Deus, Ele sabe que o pecado do assassinato não é o ato em si, mas o ódio no coração. O ódio é equiparado ao assassinato, não por suas consequências externas, mas por sua raiz. A genealogia da violência, ódio e assassinato pode ser rastreada até Caim, que não assassinou Abel por capricho, mas por um planejamento nascido da inveja.
- Dissecar o coração de Caim nos é didático. Ele queria o que seu irmão tinha – o favor e o amor de Deus – e guardava ressentimento. A Escritura, ao ser vaga sobre os detalhes, nos permite preencher os “sapatos de Caim” com nossas próprias motivações.
- A raiz da inveja e ingratidão de Caim, podemos dizer, era o descontentamento com o próprio Deus. Sem poder retaliar contra Deus, ele volta sua raiva para Abel, criando ainda mais uma barreira entre ele e o Criador. “Eu mereço mais amor de Deus”, talvez pensasse ele, vendo suas ofertas rejeitadas. O pecado de Caim se alinha com o de Adão e Eva, e com o nosso: a desconfiança na bondade de Deus e o desejo de ser Deus.
III. A Verdadeira Cura: Além do Remorso e da Autopunição
- A medicina nos mostra que o lamento é para o pecado o que a adrenalina é para um coração debilitado: um mecanismo compensatório que, se não tratado na raiz, perpetua o problema. Quem luta com pecados habituais conhece o ciclo: promessa de nunca mais fazer, quebra da promessa, miséria, e o ciclo se repete.
- Por que esse ciclo? Porque o poder para vencer o pecado não vem do arrependimento e da amargura por ele. É verdade que os que receberam o Espírito Santo choram seus pecados, mas há uma linha tênue entre esse movimento saudável de arrependimento e um mais mórbido, impulsionado por Satanás.
- Em algum ponto, começamos a confundir essa miséria espiritual com o verdadeiro arrependimento, acreditando que “sentir-se mal” é uma oferta a Deus. O que deveria ser um movimento em direção a Deus se torna uma sutil idolatria: nossa autoaversão e autopunição começam a tomar o lugar de Cristo. Colocamos nossa esperança não no sacrifício perfeito do Cordeiro de Deus, mas em nossos próprios e escassos esforços para fazer as pazes.
- A redenção, meus amigos, não vem de nossos esforços ou lágrimas, mas é um dom divino. Vencemos o pecado não nos batendo ou por autoaversão, mas sendo edificados através do Espírito Santo de Deus. Aqueles que caem na armadilha da autopunição, crendo que se aproximarão de Deus, acabam se afastando.
Conclusão
Considerando tudo isso, podemos visualizar três trajetórias de “doença” espiritual e uma de verdadeira cura.
- Muitos, diante de pecados repetidos, desistem da fé, ou a distorcem para justificar suas ações.
- Outros, escondem seus pecados e se tornam moralistas, travando uma batalha interna sem o Espírito Santo e o Advogado Cristo.
- Há ainda aqueles que vencem um hábito pecaminoso, apenas para cair em outro, pois a mudança não veio da raiz, mas da supressão superficial ou do orgulho.
Mas, meus amigos, há uma gloriosa trajetória: aquela onde, pela experiência do amor de Deus e pela graça do Espírito Santo, a pessoa tem seu coração transformado e abandona o pecado.
Este é o tipo de experiência que produz alegria genuína e humildade profunda. Não é uma vitória conquistada pela força, disciplina rígida ou “bondade” humana, mas sim um reconhecimento e uma apropriação da bondade de Deus.
Isso é nada menos que um milagre – o verdadeiro arrependimento não é apenas tristeza ou remorso, mas uma verdadeira e sobrenatural transformação do coração. Não é uma batalha vencida de uma vez por todas, mas, como em uma partida de rúgbi ou futebol, é conquistada jarda por jarda, centímetro por centímetro.
Quando olhamos para as raízes do pecado em nossa vida, percebemos quão profunda é nossa rebelião contra Deus – até mesmo algumas de nossas “boas obras” podem estar manchadas por esse estado de inimizade!
Mas isso não deve ser desanimador! Pelo contrário: é uma libertação! Uma vez que não confiamos em nossa própria força para obedecer a Deus, nem na perfeição de nosso arrependimento, mas sim no poder do Espírito Santo de Deus e no sacrifício perfeito de Jesus Cristo, somos encorajados a dizer, com o apóstolo Paulo, que Aquele que começou a boa obra em nós será fiel para levá-la a cabo.
Cada pequeno passo que dermos para sermos mais como Cristo é uma vitória humilde – uma vitória que nunca nos deixa orgulhosos ou críticos, mas sim cheios de amor e compaixão por aqueles que enfrentam as mesmas lutas.
Autor: Fellipe Lima Nobre de Queiroz
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