Ricardo chegou à igreja como uma brisa sofisticada numa manhã comum. Era dono de uma rede de transportes urbanos e carregava a aura de quem sabia onde queria chegar.
Com terno sob medida, sapato italiano e um sorriso sereno, logo se destacou. Sentava-se nas primeiras fileiras, cantava com entusiasmo contido, e em poucos meses, tornara-se conhecido por todos – não apenas pelo rosto, mas pelas cifras generosas que depositava no envelope de ofertas.
A liderança se impressionou.
Pastores comentavam entre si: “Deus está levantando homens de influência para o Reino.” Era difícil discordar. Em menos de um ano, Ricardo já ocupava uma posição no conselho da igreja. Suas ideias para a “modernização” da administração e “profissionalização da fé” eram sempre recebidas com aplausos. Afinal, quem melhor para gerir os assuntos da igreja do que um gestor de sucesso?
Contudo, ninguém perguntava aos motoristas de sua empresa como era trabalhar para Ricardo. Ninguém ouvia as histórias dos funcionários que dividiam o almoço porque o salário mal dava para a condução. Nas garagens, o ambiente era áspero.
Exigia-se pontualidade militar, mas os ônibus quebravam com frequência e não havia sequer ventilação decente no espaço de descanso. Quem adoecia era substituído sem aviso. E, embora os lucros da empresa crescessem a cada trimestre, a base permanecia estagnada – ou pior, sufocada.
Um dia, durante uma reunião de oração, a voz trêmula de Dona Célia, uma das funcionárias da limpeza da igreja, se levantou. “Pastor… posso falar? Meu filho trabalha na empresa do irmão Ricardo. Ele tá doente, sem plano de saúde, e já ameaçaram mandar ele embora.” A sala ficou num silêncio desconfortável.

O pastor pigarreou, olhou para Ricardo, que permaneceu sereno, e respondeu: “Vamos orar por ele, irmã.”
Nada mudou.
Aos poucos, alguns membros começaram a questionar, mas o peso do prestígio falou mais alto. “Ele ajuda tanto a igreja…” diziam. “Deus usará isso para tocá-lo…”, repetiam. Mas, semana após semana, Ricardo subia ao púlpito para orar, liderava reuniões e tomava decisões espirituais. Seu terno continuava bem passado.
Seu coração, intocado.
Anos se passaram. A igreja cresceu, ergueram um novo templo com ar-condicionado central e telão LED. Mas muitos não perceberam que, entre os tijolos e vitrais, construíram também um altar à aparência.
A fé de Ricardo jamais moveu suas práticas. O evangelho que professava não cruzou a porta do escritório. Era um evangelho de domingo – elegante, sonoro, mas desnutrido de vida.
E a igreja, talvez sem perceber, acabou refletindo esse mesmo modelo: limpa, eficiente, admirável – porém, morna, inofensiva, e cada vez mais parecida com o mundo do qual deveria ser sal e luz.
Porque, no fim, o que transforma o mundo não são cifras, nem discursos: é o coração regenerado. E onde não há mudança no íntimo, não há evangelho – só performance.
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