A Relevância do Pentecostes: Promessa, Poder e Presença

Se o Natal é importante para a Cristologia, a Páscoa para a Soteriologia, o Pentecostes é importante para a Eclesiologia e para a Pneumatologia. Nosso tema é: A Relevância Pentecostes: Promessa, Poder e Presença;

Dessas três datas do calendário cristão, o Pentecostes é a menos celebrada na igreja, mas não deveria. Isso porque a Igreja começa no Pentecostes. A Igreja não é uma adaptação, um arranjo porque o plano de Deus com Israel falhou; não, a Igreja é a consumação do plano original de Deus.

Israel é muito importante no plano de Deus, mas era uma etapa desse plano. Quando Deus chama Abraão para, a partir dele, constituir o seu povo, a Igreja já estava nesse plano:

Gênesis 12:3: “Abençoarei aqueles que o abençoarem e amaldiçoarei aquele que o amaldiçoar. Em ti serão benditas todas as famílias da terra.”

Veja que a promessa de Deus ia além do Israel étnico, mas a bênção de Deus passaria pela descendência de Abraão. Mateus começa o seu Evangelho assim:

Mateus 1:1: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.”

No seu diálogo com a mulher samaritana, Jesus enfatiza isso:

João 4:22: “Vocês adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.”

A Igreja é a última etapa desse plano maravilhoso de Deus que começa com o chamado de Deus a um homem e uma mulher e, a partir deles, ao longo da história, vai desvelando o seu projeto eterno de salvação.

No Pentecostes inicia-se na história a última fase desse plano, que se consumará com a volta de Jesus Cristo para encontrar-se com a sua Igreja.

O Pentecostes tem que ser celebrado e valorizado pela igreja, principalmente por nós, que embora não sejamos, por hereditariedade, descendentes de Abraão, por meio de Cristo, somos filhos espirituais de Abraão.

É no Pentecostes que o plano de Deus, para que por meio de Abraão todas as famílias da terra sejam abençoadas, se inicia. Vejam que o derramamento do Espírito Santo, não apenas sobre Israel, mas sobre a humanidade, já havia sido prometido:

Joel 2:28: “E acontecerá, depois disso, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus velhos terão sonhos, e os seus jovens terão visões.”

Leiamos o texto básico: A Narrativa do Pentecostes em Atos 2:1-13

¹ Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. ² De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. ³ E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. ⁴ Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. ⁵ Estavam morando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. ⁶ Assim, quando se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que foi tomada de perplexidade, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. ⁷ Estavam atônitos e se admiravam, dizendo: — Vejam! Não são galileus todos esses que aí estão falando? ⁸ Então como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? ⁹ Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, ¹⁰ da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, ¹¹ tanto judeus quanto prosélitos, cretenses e árabes. Como os ouvimos falar sobre as grandezas de Deus em nossas próprias línguas? ¹² Todos, atônitos e perplexos, perguntavam uns aos outros: — O que será que isso quer dizer? ¹³ Outros, porém, zombando, diziam: — Estão bêbados!

Vamos analisar agora os Três “Ps” do Pentecostes

1. A Promessa Cumprida – O Plano em Execução

O primeiro “P” é o da Promessa.

O evento de Pentecostes representa o glorioso cumprimento das promessas divinas anunciadas no Antigo Testamento. O profeta Joel havia anunciado: “Derramarei do meu Espírito sobre toda a humanidade” (Joel 2.28), e Ezequiel profetizou: “Porei o meu Espírito dentro de vocês” (Ezequiel 36.27). Essas não eram meras palavras de esperança, mas declarações proféticas que encontraram sua realização plena naquele momento extraordinário.

De maneira apropriada, a Bíblia tem sido descrita como uma narrativa, um drama em quatro atos: Criação, Queda, Redenção e Consumação. E o Pentecostes começa uma nova cena dentro desse ato que é a Redenção.

Na cena que começa em Pentecostes, agora é o Espírito Santo que está à frente do palco, embora a sua fala glorifique a Cristo. Mas agora é Ele que entra em cena, como o cumprimento das promessas de Deus.

Além das promessas do Antigo Testamento, o próprio Jesus Cristo anuncia o envio do Espírito Santo:

João 15:26: “— Quando, porém, vier o Consolador, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade, que d’Ele procede, esse dará testemunho de mim.”

Atos 1:8: “Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.”

Qual a importância disso para nós hoje? O plano de Deus é completo e ainda não terminou, nem na Igreja, nem em nós. Há promessas ainda a serem cumpridas.

O Pentecostes vem nos lembrar que o Plano de Deus é infalível, que sua vontade é invencível e que, no tempo que Ele estabeleceu, as coisas se cumprirão. Não há atrasos, nem falhas nos planos de Deus.

Desde o dia do chamado a Abraão até o dia de Pentecostes, milênios se passaram. Lucas fala que: de repente… Esse “de repente” é o cumprimento do que Deus já havia prometido há milênios. Nem um segundo antes, nem um segundo depois, exatamente no dia, hora e lugar que Deus determinou.

Isso significa que, quando olhamos para o mundo em que vivemos ou para a igreja e as coisas parecem fora de ordem e ficamos tomados de perplexidade, não devemos nos afligir. Deus tem um plano; esse plano está em andamento e será consumado exatamente como Ele estabeleceu.

Nenhuma pessoa, nenhuma nação, ninguém será obstáculo ao cumprimento do plano de Deus, pois quando Ele age, quem pode impedir? Nem a velhice de Abraão, nem a esterilidade de Sara, nem o Egito, nem a Babilônia, nem Herodes, nem Roma puderam impedir o desenvolvimento do plano de Deus. Nem o comunismo, nem o islamismo, nem o secularismo poderão ser obstáculos ao plano de Deus.

Então, o Pentecostes vem nos lembrar da infalibilidade das promessas de Deus e que devemos viver na esperança da consumação desse plano maravilhoso, que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, mas que Deus preparou para aqueles que o amam.

2. O Poder Derramado – Para Proclamar

O segundo “P” é o do Poder.

O Espírito Santo não é um poder, é uma pessoa da Trindade que dá poder ao povo de Deus.

Ao longo do seu ministério, Jesus experimentou todo tipo de hostilidade, perseguição, que culminou na sua morte da maneira mais cruel e humilhante que poderia haver naquela época. Ele sabia que na vida dos seus discípulos não seria diferente. No Sermão do Monte, ele já havia dito que:

Mateus 5:11–12: ” — Bem-aventurados são vocês quando, por minha causa, os insultarem e os perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vocês. Alegrem-se e exultem, porque é grande a sua recompensa nos céus; pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.”

E a Igreja teria uma grande missão pela frente: proclamar o Evangelho até os confins da Terra. E tanto em Jerusalém quanto nos confins da Terra haveria oposição, hostilidade, perseguição, prisões, mortes. E já com Estevão, o primeiro mártir, podemos ver que, em todos os lugares, em todos os tempos, o inferno, por meio de seus agentes, lutaria para destruir a Igreja, perseguindo os cristãos.

O Espírito Santo não só cumpre a promessa de Deus com sua vinda, mas também com o derramamento do seu poder sobre a Igreja.

Como nação, Israel viu a sua missão voltada para si mesma. Com o templo, o culto ficou ainda mais restrito a um local e as pessoas deveriam ir a Jerusalém para adorar. O diálogo com a mulher samaritana demonstra bem essa perspectiva da centralidade do culto em um lugar.

A Igreja tem diante de si um novo desafio. Se em Israel a adoração e o culto a Deus estavam centralizados em Jerusalém, no Templo, agora a Igreja tem a missão de sair e anunciar Cristo em todos os lugares da Terra, de proclamar o Evangelho.

E para poder cumprir uma missão impossível, o Espírito Santo dá à Igreja um poder irresistível, insuperável.

Que lição podemos tirar aqui?

Os desafios que temos como cristãos de proclamar Cristo em nosso tempo não são maiores do que os da Igreja daquela época, só são diferentes; mas o poder é o mesmo.

Se a Igreja não tem sido ousada no seu testemunho ao mundo, não é por conta da dificuldade que enfrentamos, mas porque não buscamos o poder e a plenitude do Espírito Santo para proclamar o Evangelho em nosso mundo.

3. A Presença de Deus – no Povo de Deus

Chegamos ao último “P”. O da Presença de Deus no seu povo.

O Espírito Santo não é um inquilino, um invasor, um intruso. Ele é proprietário.

Veja o que a Bíblia diz sobre a nossa condição anterior: A Bíblia afirma em diversos textos que fomos “comprados” ou “resgatados” por Cristo, usando uma linguagem de redenção que remete ao pagamento de um preço para libertar alguém — especialmente do pecado e da escravidão espiritual. Aqui estão os principais textos que tratam desse tema:

1 Coríntios 6:19–20: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.”

Percebam a relação da habitação do Espírito e ter sido comprado.

Atos 20:28: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue.”

Apocalipse 5:9: “E entoavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação.”

1 Pedro 1:18–19: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento… mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.”

O mesmo Pedro vai dizer que somos povo de propriedade exclusiva de Deus.

A ideia de “compra” ou “redenção” é uma metáfora tirada do mercado de escravos e do sistema de resgate no Antigo Testamento (cf. Levítico 25:47–49). Jesus é o Redentor que paga o preço.

As manifestações sobrenaturais em Pentecostes — “um som como de um vento impetuoso” e “línguas como de fogo” — não foram apenas fenômenos impressionantes, mas sinais da presença divina entre seu povo.

Assim como no Antigo Testamento Deus se manifestou no vento (1 Reis 19:11–12) e no fogo (Êxodo 3:2), agora essas mesmas manifestações apontam para uma nova realidade: a habitação permanente de Deus entre os seus.

Em Isaías aprendemos que toda a terra está cheia da glória de Deus, mas é em Israel, e mais especificamente no Templo, que essa presença era mais sensível. Daí, inclusive, a restrição ao acesso ao Lugar Santíssimo.

No Pentecostes, essa presença agora é no povo de Deus. Nós somos o templo do Espírito Santo, a habitação de Deus. E essa presença tem a ver com propriedade e com os dois “Ps” anteriores: a promessa e o poder.

Em Efésios, Paulo nos diz:

Efésios 1:13–14: “¹³ Nele também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da salvação, e nEle também crestes, recebestes o selo do Espírito Santo da promessa, ¹⁴ o qual é o penhor da nossa herança, até o resgate da Sua propriedade, em louvor da Sua glória.”

Em primeiro lugar, temos o selo, que era um sinal de propriedade. Depois, quando Paulo fala do Espírito como penhor, é muito importante, pois o penhor é um bem precioso dado como garantia de pagamento. O que Paulo está dizendo é que o Espírito nos é dado para que não duvidemos do cumprimento das promessas e bênçãos que Deus prometeu ao Seu povo.

Por outro lado, a presença tem a ver com poder. Deus não nos dá o Seu Espírito com limitação.

João 3:34: “Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus não dá o Espírito por medida.”

Ele quer nos encher do Seu Espírito.

Ser cheio do Espírito não significa que o Espírito possa ser dividido em partes ou porções. Ser cheio do Espírito significa rendição, entrega, renúncia de cada área da minha vida.

Conclusão: Nossa Missão, Nossa Esperança

Qual a grande lição que tiramos aqui?

Em primeiro lugar, o nosso olhar deve estar no triunfante plano de Deus e não nas circunstâncias e nos percalços do caminho.

Quando olhamos para o passado e vemos pessoas que fizeram coisas extraordinárias, tendemos a achar que eram pessoas com capacidades maiores do que as nossas e por isso fizeram a diferença em seu tempo, e não atentamos que eram pessoas comuns, sem nada de especial nelas, mas que deixaram o Espírito Santo encher suas vidas com o Seu poder e, por isso, foram tão usadas.

A celebração do Pentecostes vem nos lembrar que, até Jesus Cristo voltar, temos uma missão a cumprir. Vimos nesse artigo A Relevância do Pentecostes: Promessa, Poder e Presença promessa, poder e presença. O nosso papel é proclamar o Evangelho com coragem e ousadia.

Autor: Rev. Kleber Nobre de Queiroz

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Leia de Hernandes Dias Lopes: Pentecoste: O fogo que não se apaga.

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