Thomas Schreiner, um renomado estudioso do Novo Testamento, defende o cessacionismo, a crença de que alguns dos dons espirituais mencionados na Bíblia não são mais concedidos.
Não são uma característica regular da vida da igreja hoje. Ele argumenta que essa visão se alinha melhor com as Escrituras e, secundariamente, com a experiência.
Aqui estão os pontos-chave de sua argumentação sobre os dons do Espírito Santo e a visão cessacionista.
1. O Fundamento Apostólico e Profético Já Foi Lançado
- Fundamento da Igreja: Schreiner baseia sua principal premissa em Efésios 2:20, que descreve a igreja como “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas”. Para ele, isso significa que todo o conhecimento necessário para salvação e santificação já foi entregue através do ensino desses apóstolos e profetas, e esse ensino está integralmente nas Escrituras.
- Apóstolos Cessaram: Ele argumenta que não existem mais apóstolos no sentido técnico (como Paulo, Pedro e João), que foram comissionados por Jesus ressuscitado e incumbidos de estabelecer a doutrina ortodoxa da igreja primitiva. Paulo se considerava o “último apóstolo” (1 Coríntios 15:8), e a ausência de substitutos para apóstolos que morreram (como Tiago, irmão de João) reforça essa ideia.
- Profecias Cessaram: Se o apostolado cessou, Schreiner defende que o dom de profecia também o fez. Ele argumenta contra a ideia de que a profecia no Novo Testamento poderia conter erros, afirmando que a profecia bíblica (tanto no AT quanto no NT) sempre foi infalível. O que as pessoas hoje chamam de “profecias” seriam, na verdade, impressões divinas, que não são infalíveis e devem sempre ser testadas pela Escritura e por conselheiros sábios.
2. O Caráter Específico do Dom de Línguas
- Línguas Estrangeiras: Schreiner entende o dom de línguas (glossolalia) como a capacidade de falar em línguas estrangeiras reais e inteligíveis, conforme descrito em Atos (2:1-4; 10:44-48; 19:1-7). Para ele, esse dom sinalizava o cumprimento das promessas da aliança de Deus.
- Não Emoções Extáticas: Ele rejeita a ideia de que o dom de línguas em 1 Coríntios 12-14 seja diferente do descrito em Atos (ou seja, vocalizações extáticas ou linguagens não humanas). A palavra grega glōssa denota um código linguístico, uma linguagem estruturada. Quando Paulo menciona mistérios, é porque ninguém conhece a língua falada. Ele vê passagens como 1 Coríntios 13:1 (línguas dos anjos) como hipérbole.
- Redefinição Moderna: Schreiner sugere que o que ocorre em círculos carismáticos hoje, em relação às línguas, é uma redefinição do dom para acomodar a experiência contemporânea, não correspondendo à descrição bíblica.
3. Milagres e Curas: Função de Acreditação e Sua Descontinuidade
- Deus Ainda Cura: Embora Schreiner acredite que Deus ainda cura e faz milagres hoje em dia, e que devemos orar por isso, ele duvida que o dom de milagres e curas exista como uma característica regular na igreja atual.
- Função Primária: A função principal desses dons no período apostólico era credenciar a mensagem do evangelho, confirmando a divindade de Jesus.
- Exigência de Verificação: Para ele, se esses dons existissem hoje, as manifestações deveriam ser do mesmo tipo das encontradas na Bíblia (cegos vendo, coxos andando, mortos ressuscitando), e essas alegações precisariam ser verificadas rigorosamente, como a cura do cego em João 9. Curas de doenças comuns não se enquadram nessa categoria.
4. A Interpretação de 1 Coríntios 13:8-12
- Não Há Requisito de Continuidade: Schreiner argumenta que 1 Coríntios 13:8-12 (“quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”) permite que os dons perdurem até o retorno de Jesus, mas não exige que eles continuem. Ele vê indícios em Efésios 2:20 e outros textos de que os dons desempenharam um papel fundamental na fundação da igreja e que, uma vez estabelecido esse fundamento, não seriam mais necessários de forma contínua.
- Inconsistência da Prática Atual: Além disso, ele conclui que a forma como esses dons são praticados hoje não corresponde à descrição bíblica original.
Em suma, Schreiner adere à visão de que os dons de apostolado, profecia e línguas cessaram, e que os dons de milagres e curas, embora Deus ainda possa agir de forma soberana, não são mais dons concedidos a indivíduos de forma regular na igreja.
Sua posição baseia-se na convicção de que o período apostólico foi único para o estabelecimento da fundação da fé cristã, e a Bíblia, agora completa, é a autoridade final e suficiente.
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